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21/08/2013
PIB foi superestimado, diz economista
 
São Paulo – O economista Eduardo Giannetti da Fonseca fez na noite desta terça-feira (20) uma palestra na Câmara de Comércio Árabe Brasileira sobre as perspectiva da economia brasileira. Para ele, o cenário atual não deve mudar muito, pelo menos até o segundo semestre de 2014, quando ocorre a próxima eleição para presidente. “Não vejo expectativa de mudança no curto prazo”, afirmou ele para uma plateia de empresários e consultores, além de funcionários e diretores da Câmara Árabe. Para além, Giannetti disse que ainda é “cedo” para fazer projeções.

Isso não quer dizer que o futuro próximo será bom, porque o quadro atual da economia, em sua avaliação, está longe do ideal. Ele destacou os três principais problemas do Brasil: baixo crescimento, pressão inflacionária e déficit em conta corrente em alto. “A combinação desses três fatores não é comum”, declarou.

Na opinião do economista, a inflação e o avanço do déficit externo são compatíveis com um quadro de crescimento acelerado. Hoje, porém, o saldo negativo em transações correntes está em 3% do Produto Interno Bruto (PIB), o passo que PIB do primeiro trimestre de 2013 avançou apenas 0,6% em comparação com o último de 2012 e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador de inflação do governo, ficou em 6,27% no acumulado dos últimos 12 meses. Até junho, a inflação anualizada estava acima do teto de 6,5% da meta do Banco Central, mas desacelerou no mês passado.

“Esta situação não é nenhum pouco confortável”, ressaltou Giannetti. Para ele, “havia uma superestimação do PIB potencial do Brasil”. Isso quer dizer que as projeções feitas no passado recente, que apostavam em um crescimento anual entre 4% e 4,5%, eram demasiadamente otimistas e vêm sendo frustradas nos últimos anos. Segundo o economista, se o País cresceu em média 4% de 2003 a 2010, o desempenho dos últimos três anos, bem abaixo disso, permite estimar um crescimento futuro de 2,5% a 3% “de maneira sustentável”.

Ele destacou que ao longo da década passada o País teve avanços significativos. Em primeiro lugar, houve um grande aumento da demanda e dos preços por commodities exportadas, como grãos e minérios, principalmente antes da crise financeira internacional, mas mesmo depois dela, com o apetite de mercados emergentes, especialmente a China. No front interno, políticas sociais e o aquecimento da economia fizeram 30 milhões de pessoas ascenderem à classe média, o desemprego caiu pela metade e a população economicamente ativa crescia a 1,5% ao ano.

“Este movimento se esgotou”, afirmou Giannetti. A economia norte-americana se recupera, a crise na Europa parece estar sob controle e as nações emergentes já não crescem como antes. Por um lado, esse quadro arrefece a demanda internacional por produtos exportados pelo Brasil, e por outro, atrai para os Estados Unidos capitais que tinham buscado maior rentabilidade nos mercados em desenvolvimento, gerando déficit externo e desvalorizando moedas locais. Na seara doméstica, o economista defende que houve uma deterioração da política econômica brasileira, principalmente após o início do governo da presidente Dilma Rousseff, em 2011.

Para ele, o “tripé” formado pela “austeridade fiscal”, traduzida na obtenção de superávit primário, pelo câmbio flutuante e pela independência do BC, marcada pela busca das metas de inflação, foi relaxado nos últimos anos, numa política que “perdeu nitidez” e consistência.

O economista critica também medidas pontuais destinadas a tentar resolver problemas macroeconômicos, o que ele chamou de “microgerenciamento da economia”, como a desoneração tributária concedida a determinados setores com maior poder de pressão sobre o governo; o aumento ou redução do imposto de importação sobre certos produtos, uma hora para proteger um setor, outra para impedir escalada de preços; o controle de tarifas públicas, como no caso da energia elétrica, na esperança de segurar a inflação; e as mudanças de modelos na área de concessão de serviços públicos para a iniciativa privada.

Giannetti afirmou, porém, que “há uma curva de aprendizado”, o que quer dizer que o governo parece estar aprendendo com erros recentes, sendo que uma amostra disso é a “mudança da postura do BC”, que voltou a aumentar a taxa básica de juros e parece mais preocupado com a meta de inflação.

Outro dado positivo é o desemprego, que segue abaixo de 6%, o que o economista qualifica de “espetáculo”. Ele diz, porém, que o ritmo de geração de empregos deverá cair com o a economia desaquecida.

Gargalo

Outro problema do Brasil, segundo Giannetti, um gargalo estrutural que arrasta desde a Constituição de 1988, é o baixo investimento na formação bruta de capital fixo, ou seja, os investimentos em infraestrutura e no setor produtivo propriamente dito. A taxa no Brasil gira em torno de 18% do PIB, enquanto que em países “de alta performance de investimentos” ela varia de 25% a 30%.

Esse baixo nível de investimentos existe em parte por causa da alta carga tributária brasileira, de 36% do PIB. Na outra ponta, os investimentos estatais são de apenas 2,4%. Ou seja, na prática é dinheiro que o governo retira da economia para custear a máquina pública e que não gera benefícios na mesma medida.

Mercosul

Ao responder uma pergunta do presidente da Câmara Árabe, Marcelo Sallum, Giannetti falou ainda sobre o Mercosul, que passa por um momento conturbado, com o Paraguai ainda suspenso, a entrada da Venezuela e a deterioração da economia da Argentina. “Nossos parceiros deixam muito a desejar”, declarou. “O Brasil tem que pensar muito mais em acordos comerciais com bloco relevantes, como a América do Norte a União Europeia, do que insistir nesse processo que não vingou, que é o Mercosul”, acrescentou.

O debate, com perguntas da plateia, foi mediado por Sallum e por Mario Rizkallah, empresário e ex-diretor da Câmara Árabe.

Fonte: ANBA
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