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04/09/2012
Piauí vira terra da soja
 
Estado passou de 12 mil toneladas de produção no início dos anos 90 para mais de um milhão de toneladas. Chegada de novos empreendedores, desenvolvimento de tecnologia e mercado promissor ajudaram.

São Paulo – No começo dos anos 90, a soja ocupava um pouco menos de sete mil hectares no Piauí, estado do Nordeste brasileiro, e a colheita resultava em 12,2 mil toneladas. Na primeira colheita dos anos 2000, a área já estava em 40 mil hectares e o volume em 100 mil toneladas. Na última safra os produtores plantaram 383,6 mil hectares com soja e tiraram da terra 1,14 milhão de toneladas. O estado, considerado uma das novas fronteiras agrícolas do Brasil, se tornou produtor de larga escala da commodity e vive quase uma festa da soja.

“O fator primordial é o comercial. Existe uma demanda monstruosa na China e essa demanda faz correr o resto”, afirma Ricardo Montalvan, pesquisador de melhoramento de soja da unidade Meio Norte da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), sobre os motivos do crescimento da produção no Piauí. Aliado a isso, porém, ele cita as condições climáticas adequadas do estado e o desenvolvimento de tecnologias que permitem uma boa produtividade da planta. “E temos empreendedores”, afirma.

O encarregado de Informação e Logística da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no Piauí, José Pereira do Nascimento Júnior, acredita que o empreendedorismo foi fator primordial para o crescimento do estado na produção agrícola. “O pessoal do Sul migrou para cá, tem apostado na produção e não tem se decepcionado, principalmente com a soja”, disse Júnior à ANBA, lembrando que os “sulistas” iniciaram as plantações nos “chapadões”, como costuma ser chamado o Cerrado.

Previsões da Conab apontam crescimento de 11% na colheita da commodity pelo estado na atua safra, com 1,271 milhão de toneladas. E o Piauí vem se destacando também na balança comercial da soja. As exportações do produto somaram 127 mil toneladas de janeiro a julho deste ano, com crescimento de 44% sobre o mesmo período do ano passado. As vendas levaram US$ 69 milhões de renda para quem planta e colhe no Piauí.

Tanto as exportações quanto a produção não representam muito no montante do País, mas significam avanço expressivo para o estado, que há cerca de vinte anos tinha quase que só produções familiares. Júnior, da Conab, lembra que quem produz grãos hoje no estado são grandes grupos empresariais. Do total de grãos que o Piauí vai produzir na atual safra, 93%, segundo ele, virá da agricultura empresarial. “Antes da agricultura empresarial, os produtos cultivados eram o feijão, o milho e o arroz, plantados apenas por agricultores familiares”, diz.

A transformação começou nos anos 1980, mas teve avanço importante na virada da década de 1990 para 2000. “Na época, as terras no Piauí eram baratas, hoje não são mais baratas”, afirma Júnior. A tecnologia teve papel importante no crescimento da agricultura do Piauí, com o trabalho da Embrapa e de empresas de sementes desenvolvendo cultivares mais adequadas ao solo e ao clima da região. No caso da soja, o rendimento por hectare, que estava em 1.800 quilos lá por 1993, hoje está ao redor de 2.900 quilos. Cresceu 61%.

Só a Embrapa lançou, desde os anos 80, cerca de 40 cultivares de soja para plantio no estado. Destas, atualmente, 12 a 15 estão em uso. As demais ficaram defasadas e foram sendo substituídas por opções mais rentáveis. O trabalho é feito por melhoramento genético e leva em conta o ciclo mais apropriado para a planta na região e a quantidade de água que ela vai receber durante a sua vida, que no Piauí será cerca de 500 milímetros de chuva. O calor e a exposição ao sol são favoráveis para a alta produtividade em função dos benefícios que traz para a fotossíntese da planta, segundo o pesquisador Montalvan.

Além do trabalho com sementes, porém, a Embrapa faz recomendações em outras áreas para os produtores de soja, como a subsolagem (processo de revirar a terra antes do plantio) de 40 centímetros, o plantio direto (para quem não faz subsolagem) e as duas adubações, uma no plantio e outra antes da floração. Tudo isso e outras medidas, como controle de pragas e doenças, quando seguido pelos agricultores, ajuda o estado a produzir mais e melhor, apesar de a terra ali ter menos nutrientes do que no Sul do Brasil.

Fonte: ANBA
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