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28/03/2012
Aumento do protecionismo na América Latina preocupa a região
 
As medidas protecionistas adotadas recentemente por países latino-americanos – como o Brasil e a Argentina – para proteger suas indústrias estão preocupando outras nações do continente, que temem perder receita e volume nas exportações. O alerta foi dado por José Mujica, presidente do Uruguai, durante a reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) na semana passada, em Montevidéu (Uruguai). No encontro, representantes de vários países-membros do BID falaram sobre o excesso de dinheiro oriundo dos bancos centrais dos países desenvolvidos que, com a crise na Zona do Euro, passou a fluir na direção da América Latina, em busca de mercados mais estáveis e lucrativos – elevando o valor das moedas locais e prejudicando a competitividade desses países. Assim, muitas nações se sentem tentadas a adotar medidas para diminuir as importações, a fim de proteger sua economia.

Levantamento do Global Trade Alert mostra que o Brasil tem 79 medidas contra o livre comércio (stock.xchng)
Levantamento feito pelo instituto Global Trade Alert, organização internacional que monitora políticas que afetam o comércio mundial, mostra que enquanto no Brasil existem 79 medidas (sem contar tarifas) que restringem de alguma forma o livre comércio no País, a Argentina mantém 152 delas. Uma pesquisa feita pelo jornal O Estado de São Paulo revela que, desde que tomou posse, a presidente Dilma Rousseff adotou ou estuda a adoção de cerca de 40 medidas protecionistas, como intervenção no câmbio, maior fiscalização nos portos e sobretaxas de produtos. De acordo com a entidade, o Uruguai não possui nenhuma medida protecionista. Já o Peru e a Venezuela têm 11 cada uma, a Colômbia, sete, a Bolívia e o Paraguai, três e o Chile, duas.

Os Estados Unidos, maiores advogados da abertura de mercados do mundo, possuem mais medidas protecionistas em vigor do que o Brasil: 106. Já a China tem 89 ações.
Especialistas afirmam que esse tipo de medida pode trazer mais prejuízos que benefícios. Pesquisas sobre o assunto apontam que a derrubada de barreiras comerciais estimula o crescimento econômico de países e continentes, no longo prazo. “O protecionismo pode ser uma boa forma de evitar, no curto prazo, o ‘trabalho sujo’ de dar incentivos efetivos às indústrias locais. Mas para a nossa região, esse tipo de medida é simplesmente o pior inimigo”, disse recentemente em entrevista Nicolas Eyzaguirre, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo estimativa do BID, o comércio exterior representa 39% do Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina, bem abaixo dos 70% alcançados nos países em desenvolvimento do Leste da Ásia e do Pacífico. De acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC), as exportações das Américas do Sul e Central corresponderam a apenas 4% do comércio mundial em 2010.

Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, reforça o discurso do diretor do FMI. “O que o governo brasileiro está fazendo é adotar medidas paliativas que apenas respondem às reclamações dos setores industriais mais organizados e com maior capacidade de pressionar o poder público”, explica. “Para aumentar a competitividade nacional de vez, o País tem que investir em pesquisa e inovação e reduzir o ‘Custo Brasil’”, avalia. “A indústria precisa mirar o modelo adotado pelo agronegócio brasileiro, que nos últimos anos investiu maciçamente em tecnologia e hoje é um case de sucesso. Mesmo com a elevada taxa de câmbio atual, o setor continua competitivo no mercado internacional. O Brasil tem que ter uma clara política industrial”, diz.

Fonte: Revista BB
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