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28/06/2011
Brasil acumula saldo comercial com a China
 
Analistas do comércio exterior chinês são unânimes em prever que, em 2011, a China deverá permanecer na trajetória de redução do seu superávit comercial, tendo em vista os elevados preços das commodities e menor crescimento relativo das exportações, devido ao aumento do custo dos fatores (salários, propriedade e petróleo). Como se recorda, em 2010, o superávit chinês foi de US$ 184 bilhões, enquanto havia sido de US$ 296 bilhões e US$ 196 bilhões, em 2008 e 2009, respectivamente.

Neste contexto, de acordo com Consultoria Dragonomics, em 2011, as exportações deverão crescer entre 13% e 15% e as importações 20%, com superávit comercial chinês caindo para cerca de US$ 160 bilhões. Por sua vez, a Consultoria Roubini Global Economics (RGE) prevê que o superávit comercial chinês em 2011 deverá ser de cerca de US$ 150 bilhões, assumindo que a alta dos preços do petróleo irá aumentar o valor das importações chinesas e diminuir a demanda de exportações chinesas. Para a RGE, o superávit comercial será equivalente a 4,4% do PIB chinês. Como impacto no câmbio, Roubini pondera que enquanto um menor superávit limitará a valorização do renminbi contra o dólar em 4-6%, os elevados preços das commodities deverão ter efeito oposto sobre a taxa de câmbio.

Ainda assim, é de se esperar que a participação da China no total das exportações mundiais seguirá crescendo, em particular quando se tem em mente estar em curso um aumento da produtividade da economia chinesa, a crescente melhoria da qualidade dos bens exportados e o fato de os custos dos fatores em outros países estarem aumentando mais rapidamente do que na China.

A análise do comércio exterior chinês nos primeiros meses do ano confirma a tendência apontada pelos especialistas. Até o mês de maio, como resultado de importações no valor de US$ 712,5 bilhões e importações de US$ 689 bilhões, a China acumulou superávit de US$ 23,7 bilhões, valor aproximadamente 33% inferior ao mesmo período em 2010. A seguir, análise mais detida sobre comércio da China com o Brasil e com o resto do mundo nos primeiros meses de 2011.

Brasil-China

No comércio Brasil-China, de janeiro a maio de 2011, a corrente de comércio entre os dois países alcançou US$ 27,8 bilhões, que representa aumento de 44% em relação à corrente bilateral entre janeiro e maio de 2010. Até o momento, o Brasil exportou um total de US$ 15,7 bilhões à China e importou US$ 12,1 bilhões, obtendo como resultado um superávit acumulado de US$ 3,6 bilhões. Esses números, em relação ao mesmo período de 2010, representam aumento de 48% das exportações e de 38% das importações. Deve ser ressaltado o aumento do saldo comercial para o Brasil em 93% no referido período, em comparação com 2010. Apesar dessa melhoria quantitativa no valor do saldo, não houve reversão dos problemas qualitativos, já que a concentração das exportações em poucos produtos continua se acentuando.

Os bons resultados da balança comercial brasileira devem-se, sobretudo, à alta do preço das 3 commodities tradicionalmente exportadas pelo Brasil (minério de ferro, soja e petróleo). A participação desses produtos na pauta exportadora brasileira, entre janeiro e maio de 2011, foi de 86%. Dessa forma, embora as quantidades exportadas dos referidos produtos tenham apresentado queda, o aumento dos seus preços garantiu valor elevado das exportações brasileiras. Neste contexto, registra-se que, no mês de maio, as exportações de soja e petróleo alcançaram, em termos de valor, o seu maior nível mensal desde 2009, e, provavelmente, o maior nível de toda a série.

Assim sendo, até o mês de maio do corrente, o principal produto exportado pelo Brasil permaneceu sendo o minério de ferro (NCM 2601), responsável por 44% da pauta exportadora brasileira. Tendo em vista o aumento de 99% do preço da tonelada do minério de ferro ao em relação mesmo período de 2010, as exportações em 2011 cresceram 54% em valor, passando de US$ 4,5 bilhões em 2010 para US$ 7 bilhões, ainda que a quantidade exportada no período tenha sido 14% menor. O segundo produto mais exportado pelo Brasil, a soja (NCM 12010090), foi responsável, até o momento, por 28% das exportações brasileiras no referido período. Seu preço médio teve alta de 29% em relação ao mesmo período em 2010. Como resultado, as exportações cresceram 17% em valor, passando de US$ 3,8 bilhões para US$ 4,5 bilhões, com decréscimo de 11% da quantidade exportada. No caso do petróleo, o terceiro produto mais vendido para a China, houve aumento de 39% no preço médio do produto, acarretando aumento de 25% no valor exportado, passando de US$ 1,8 bilhão, entre janeiro e maio de 2010, para US$ 2,2 bilhões no mesmo período de 2011, embora o volume exportado tenha diminuído 19%. No período em análise, o petróleo teve participação de 14% na pauta exportadora brasileira.

No caso das importações, entre janeiro e maio de 2011, os principais produtos chineses importados permaneceram sendo as máquinas e equipamentos elétricos (NCM 85), cujas compras cresceram 26% em relação ao mesmo período de 2010, passando de US$ 2,9 bilhões para US$ 3,6 bilhões. Em segundo lugar, estiveram as máquinas e equipamentos mecânicos e para geração termelétrica (NCM 84), cujas compras cresceram 37% no referido período, passando de US$ 1,8 bilhão para US$ 2,5 bilhões. Como previsto, a terceira categoria mais importante foi a de produtos químicos orgânicos (NCM 29), cujas importações cresceram 26%, passando de US$ 454 milhões para US$ 571 milhões. Houve queda de 17% na importação de instrumentos de óptica e aparelhos de precisão (NCM 90). No entanto, caberia registrar aumento de 114% das importações de veículos automóveis, tratores, partes e acessórios (NCM 87), cujas importações passaram de US$ 213 milhões entre janeiro e maio de 2010, para US$ 455 milhões no mesmo período em 2011. As NCMs acima referidas têm participação de 64% da pauta de exportações da China para o Brasil.

Com o aumento das exportações brasileiras nos primeiros meses do ano, o Brasil passou a ter participação de 2,5% das importações chinesas no primeiro trimestre de 2011. No mesmo período em 2010, o peso do País havia sido de 1,9%. O Brasil absorveu cerca de 1,5% das exportações totais da China, acréscimo de 1%, em comparação com o resultado apresentado no 1° trimestre de 2010.

China-resto do mundo

O 1° trimestre do ano não mostrou grandes novidades no que diz respeito à direção do comércio chinês. O comércio com EUA, UE e Hong Kong seguiu sendo superavitário para a China, com saldos e aumentos perceituais em relação ao 1° trimestre de 2010 nos seguintes valores, respectivamente: US$ 34 bilhões (12%), US$ 29 bilhões (0%) e US$ 54 bilhões (40%). Com a Índia, a China logrou aumentar seu superávit comercial no período em 37%, totalizando US$ 3,4 bilhões. Por outro lado, os déficits com Japão, Coréia e ASEAN cresceram nos seguintes valores respectivos: US$ 14 bilhões (23%), US$ 17 bilhões (10%) e US$ 7 bilhões (48%), comprovando tendência de aumento de déficit com aquele grupamento econômico em 2011.

Quanto à América do Sul, em comparação com o 1° trimestre de 2010, as exportações chinesas cresceram 76% no 1° trimestre deste ano, totalizando US$ 23,2 bilhões, e as importações tiveram aumento de 62%, alcançando US$ 24,7 bilhões. Com isso, houve uma redução do déficit chinês em relação ao continente de 28%, que atualmente soma US$ 1,5 bilhão. Faz-se interessante notar que a análise da participação dos países nas exportações chinesas demonstra que o único aumento significativo do 1° trimestre de 2011 ocorreu na América Latina. Entre janeiro e março de 2010, a região era responsável por 4,2% das exportações totais da China. No primeiro trimestre deste ano, a região foi destino de 5,8% das exportações chinesas. A região foi responsável por 6,2% das importações chinesas nesse período, em contraste com a participação de 5,1% no ano passado.

Outro caso de redução do déficit chinês se deu com a Rússia, que, no 1° trimestre registrou déficit de US$ 847 milhões no seu comércio com a China, valor 47% menor do que o déficit registrado no 1° trimestre de 2010.

A China registrou, ademais, grandes déficits no 1° trimestre de 2011 com África e Austrália, nos seguintes valores: US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões. Caberia ressaltar que, nesses 2 casos, os déficits da China aumentaram 280% e 67%, respectivamente, em comparação a 2010, tendo em vista tratar-se de grandes fornecedores de commodities para o mercado chinês.

No primeiro trimestre de 2011, no que diz respeito à composição das exportações da China, verificou-se que a participação da indústria pesada teve recorde de 40%, em comparação com 38% em 2010. O setor também foi responsável por 46% do crescimento das exportações totais chinesas no referido trimestre. A indústria leve foi responsável por 32% das exportações nesse período e as exportações de eletrônicos caíram para 22%, o nível mais baixo desde 2003. Aventa-se a possibilidade de que as exportações de eletrônicos tenham sido afetadas pela interrupção da cadeia de produção ocasionada pelo tsunami no Japão.

Ainda nesse período, a participação de matérias-primas na pauta de importações da China, que havia sido de 27% nos primeiros trimestres de 2009 e 2010, subiu para 31%, em virtude dos preços das commodities. O valor das importações de minério de ferro, por exemplo, aumentou 86% em comparação com mesmo trimestre em 2010, enquanto os volumes cresceram apenas 14%, comprovando o peso do fator preço no déficit registrado. As importações dos bens de capitais representaram 47%, representando queda de 2% em relação ao mesmo trimestre em 2010.

Fonte: Embaixada do Brasil em Pequim
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