Notícias
18/04/2011
Mercosul precisa integrar sua cadeia produtiva, diz debatedor na Comissão de Agricultura
 
O Mercosul tem vocação para a produção de alimentos, mas precisa integrar sua cadeia produtiva, disse nesta sexta-feira (15), em audiência pública, o vice-presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Carlos Rivaci Sperotto. O debate foi promovido pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) e teve objetivo de avaliar as diferenças entre os países que integram o bloco do Mercosul e seus impactos sobre a agricultura brasileira.

Sperotto, que também é diretor conselheiro da Federação das Associações Rurais do Mercosul, representou o setor produtivo e se mostrou otimista.
- O Mercosul hoje é o grande provedor de alimentos do mundo - afirmou.

Ele listou entidades que congregam produtores e comerciantes do agronegócio na região. Segundo ele, essas entidades podem cooperar com a integração da cadeia produtiva e com o surgimento de propostas para a superação de dificuldades. Ele ainda destacou o papel de liderança do Brasil na região.

- Com modéstia e competência, O Brasil precisa liderar o processo de integração do bloco - disse Sperotto, sublinhando a evolução da produção agrícola do país.  

Desequilíbrios 

O deputado federal Luiz Carlos Heinze (PP-RS) disse que é preciso corrigir as assimetrias nas relações comerciais na região. Segundo o deputado, o produtor brasileiro costuma sair perdendo na comparação com o produtor dos outros países do bloco.

- Nosso produtor é eficiente, mas não consegue concorrer com as distorções observadas - declarou o parlamentar.

Luiz Carlos Heinze ainda criticou a carga tributária e a burocracia dos negócios no Brasil. O deputado deu o exemplo de um trator, que custa R$ 180 mil no Brasil enquanto o mesmo produto no Uruguai custa R$ 120 mil. Heinze também lembrou que uma colheitadeira que custa R$ 590 mil no Brasil pode sair por menos de R$ 400 mil no Uruguai. Segundo o parlamentar, diferenças semelhantes podem ser observadas em adubos, fertilizantes e material de uso corrente do agronegócio.

- Ninguém é contra o Mercosul, mas precisamos corrigir esses desequilíbrios. E isso é papel do Senado, da Câmara e do governo federal - disse o deputado.  

Balança do agronegócio 

A secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Tatiana Lacerda Prazeres, traçou uma panorama geral dos negócios comerciais do Brasil em relação ao Mercosul. Ela disse que os países bloco compram cerca de 11% do total do que o país exporta. As importações chegam a cerca de 9%. Os automóveis e as autopeças são os principais produtos brasileiros exportados para o Mercosul. Já nas importações, o destaque vai para os produtos básicos.

Quando os números são detalhados, a realidade da balança do agronegócio em relação ao Mercosul se mostra diferente do quadro geral. As exportações do setor têm peso menor. A secretária do MDIC mostrou que entre principais produtos exportados estão preparações alimentícias - como massas e biscoitos -, além de cacau e carnes. Já entre os importados, o destaque vai para os cereais, que representam cerca de 38% das importações, e para a indústria de moagem (cevada e malte).

Segundo Tatiana Prazeres, esse quadro pode mudar. Dados comparativos apresentados mostram que as importações do Mercosul no primeiro trimestre de 2011 cresceram 17%, se comparadas ao primeiro trimestre do ano passado. Na mesma comparação de período, as exportações do Brasil para o bloco cresceram 28%.  

Valor estratégico  

O diretor do Departamento do Mercosul do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Bruno Bath, lembrou o surgimento do bloco no início da década de 90, tempo "em que havia temor com fragmentações de nações e formações de blocos econômicos". O embaixador afirmou ainda que o Mercosul aumentou a inserção brasileira na região.

- Não devemos perder de vista o imenso valor estratégico do Mercosul para o Brasil - afirmou.
Quanto às questões comerciais que envolvem os integrantes do Mercosul, Bath afirmou que o "Itamarati tem perfeita consciência dos problemas das relações comerciais entre os integrantes do bloco". Para ele, é preciso encontrar mecanismos que facilitem o diálogo entre os governos. 

Participação popular

A senadora Ana Amélia (PP-RS) presidiu a reunião, que faz parte do ciclo de discussões "Agricultura em Debate". O senador Roberto Requião (PMDB-PR) também participou da audiência, que contou ainda com a participação dos cidadãos, pela internet e pelo telefone. 

Após a apresentação dos convidados, a audiência passou para os debates. A carga tributária do agronegócio foi criticada pelo senador Roberto Requião. Eliminação de impostos e novas linhas de financiamento foram apontadas pelo senador como vias de fortalecimento do comércio do agronegócio brasileiro dentro do Mercosul.

- O bloco é um caminho, mas precisamos valorizar especialmente a relação com a Argentina - disse Requião.

Assuntos como custos diferenciados para produtos equivalentes, processo burocrático e a relação entre mercado interno e externo também foram debatidos. A participação popular também foi destaque. Várias perguntas foram enviadas pelo twitter e por meio da internet. Uma pergunta enviada de Roraima questionava sobre a viabilidade da implantação de uma moeda única no Mercosul.

- É um sonho. O mundo quer se livrar da imposição do dólar - respondeu o senador Roberto Requião.
Segundo a senadora Ana Amélia, esse modelo de participação popular será repetido em outras audiências públicas.

Fonte: Agência Senado
Voltar - Início