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14/04/2011
Não ao controle de preços
 
Muito mais eficiente do que defender o controle de preços sobre as commodities seria o mundo reduzir as barreiras ao comércio dos produtos agropecuários, o que estimularia muito o aumento da produção e a estabilização dos preços. É o que afirma o professor de Economia Rural da Universidade Federal do Paraná, Eugenio Stefanelo.

Lembrando que a agropecuária depende do clima, o professor entende que os países poderiam manter estoques reguladores formados em época de grande produção, para colocar no mercado em anos de frustração da safra. "Isto estabilizaria os preços aos produtores e aos consumidores", afirma Stefanelo.

Visão curta

Ao invés disso, segundo Stefanelo, os governos dos países ricos dão sinais de que querem controlar os preços das commodities “dentro de visão curta” que só os beneficia. “Por que, ao invés de controle de preços, não sugerem o controle dos serviços que nos vendem, muitas vezes com subsídios na origem, para estimular a produção local e suas exportações, distorcendo o mercado internacional e prejudicando o desenvolvimento da produção agrícola em outros países, caso do Brasil e Argentina?"

Sempre alerta

“Para completar, falta política de seguro da produção, que vigora nos países desenvolvidos e, no Brasil, anda de arrasto e com muitos problemas”, afirma Stefanelo, para quem o Brasil deve estar alerta para a tese defendida por alguns países ricos de criar mecanismos que possibilitem o controle dos preços das commodities.

A tese do controle do preço das commodities foi levantada pela França, que, diante da reação contrária do Brasil e Argentina, recuou na proposta.

G20 agrícola

De fato, na semana passada, o ministro da Agricultura, Alimentação, Pesca, Assuntos Rurais e do Desenvolvimento da Terra da França, Bruno Le Maire, que esteve no Brasil e reuniu-se com o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Wagner Rossi, assegurou que a França não defende e não irá apresentar proposta de controle preços das commodities na próxima reunião do G20 agrícola, que irá acontecer nos dias 22 e 23 de junho, em Paris, e terá como tema central a segurança alimentar.

Na ocasião, Le Maire assegurou que o que a França defende é a regulação do mercado financeiro de commodities agrícolas, para evitar especulações que possam levar a uma crise global semelhante à que ocorreu em 2008, com a explosão da bolha imobiliária nos Estados Unidos.

Recuo estratégico

Na opinião de especialistas em comércio exterior, a posição defendida pelo ministro francês durante reunião com Rossi pode ter sido apenas um recuo estratégico. Para estes especialistas, a França está ganhando tempo enquanto busca apoio para as suas propostas junto a outros países europeus.

Exportadores brasileiros acham que, mesmo com nova roupagem, a proposta deverá ser apresentada na reunião do G20.

Stefanelo lembra que, quando interessa, os países ricos muitas vezes ignoram as leis de mercado, ou seja, da oferta e da procura, e tentam impor mecanismos artificiais para proteger seus interesses em detrimento dos países em desenvolvimento.

Os preços

A quebra de safra de trigo no norte da Europa, nos EUA e em alguns outros países, a estagnação da produção mundial de milho e o aumento do consumo pela recuperação da economia mundial baixaram os estoques globais destes produtos e provocaram uma elevação dos preços das commodities, que deverão permanecer nestes patamares elevados este ano. Soja de U$ 12,5 a 13,5/bushel, milho de 5,5 a 6,5 e trigo de 6,5 a 7,5/bushel.

No entender de Stefanelo, foi exatamente essa situação que provocou um fato raro de acontecer no Brasil. Apesar do fenômeno climático la niña, a safra foi cheia e os preços estão altos, gerando significativa rentabilidade aos produtores de soja e milho. De trigo não, porque os moinhos estão importando devido ao câmbio baixo e aos financiamentos a juros baixos.

Cenário

Este cenário de preços altos vai continuar assim durante boa parte deste ano e vai depender do desempenho da segunda safra de milho no Brasil e da safra americana de soja e milho. Se as produções forem normais, quando a safra americana entrar no mercado os preços baixarão um pouco, mas ainda dando rentabilidade aos produtores. “Se houver quebra, será um Deus nos acuda, porque os preços podem aumentar ainda mais”, alerta o professor.

Triste lembrança

Em nenhum país do mundo o controle de preços deu certo e o Brasil tem muita experiência nesse ponto, porque já adotou, e muito, no passado esta política, com péssimos resultados. No entender dos exportadores, controlar preços ou vai gerar falta de produto, caso o controle seja por preço menor do que o do mercado livre, ou excedente de oferta, caso o preço seja maior.

Estoques reguladores

“Muito mais eficiente seria o mundo reduzir as barreiras ao comércio dos produtos agropecuários, o que estimularia muito o aumento da produção e a estabilização dos preços”, garante Stefanelo.

No entanto, como a agropecuária depende do clima, os países poderiam manter estoques formados em época de grande produção, para colocá-los no mercado em anos de frustração da safra.

Para o professor, a medida estabilizaria preços aos produtores e aos consumidores. “Nos países ricos isto já é feito e atrelado à política de preços de suporte aos produtores. Nos demais, o problema é a falta de política governamental com suficiência de recursos e a falta de infraestrutura para promover esta política de estabilização da renda”, avalia Stefanelo.

Cravo e ferradura

Ele lembra ainda que, em época de preços muito baixos, nenhum país desenvolvido propôs uma política de compra de produtos a preços mais elevados para proteger a renda e as condições da produção nos países emergentes. Pior, divulgavam, em passado recente, que os países emergentes não deveriam se preocupar muito com aumento da produção local, usando áreas que poderiam ficar com florestas e preservando o ambiente global. Em caso de necessidade, receberiam produtos dos países desenvolvidos a preços baixos. “Pobre do país que tenha acreditado nesta enorme idiotice”, afirmou.

De acordo com o professor, os preços altos das commodities vão permanecer por mais dois anos, na dependência do tamanho das safras e da recomposição dos estoques. Isto também está ocorrendo devido ao aumento da demanda nos países emergentes, ligado ao aumento da renda da população e da urbanização.

Fonte: Agência de Notícias Brasil-Árabe - ANBA
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