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11/04/2011
Multinacionais fazem ousados planos no Brasil, de mineração a automóveis
 
Eles desembarcaram no país com quinquilharias de todo tipo, como brinquedos e utensílios domésticos. Depois trouxeram roupas, calçados e eletrônicos. Passaram a ocupar novos espaços com aço, computadores e, mais recentemente, automóveis. Mas a última e atual etapa da invasão chinesa — marcada pela compra de empresas locais e investimentos na produção em território brasileiro — só começou, buscando primeiro garantir abastecimento de recursos minerais e energéticos. Além de fincar bandeiras nos setores financeiro e da construção civil, o dragão chinês também deu a largada a uma integração íntima de seus negócios com o Brasil.

Apenas em 2010, projetos que somam US$ 30 bilhões foram anunciados por Sinopec, Sinochem, Wisco, Honbridge e outras estrelas chinesas. Outras mais, de áreas e tamanhos diversos, ainda deverão se fixar no mercado brasileiro. Apesar de os investimentos efetivamente realizados ainda não refletirem nos dados do Banco Central (BC), os anúncios até agora prenunciam influência crescente da China na economia brasileira. Estimativas da consultoria Deloitte reforçam a impressão, indicando que os investimentos podem passar de US$ 40 bilhões ao ano até 2014.

Mais que valores e setores sondados, o que mais chama a atenção dos analistas são as motivações das multinacionais e do Estado chineses. Para Daniel Lau, diretor da área de China Desk da KPMG no Brasil, a chegada da onda asiática ao país é “realidade duradoura”. Segundo ele, Pequim impulsiona desde 2002, via bancos e outros incentivos, a internacionalização de complexos produtivos. Empresas, por sua vez, se voltaram estrategicamente para as cadeias de suprimento de matérias-primas ou vêm atrás do concorrente doméstico que chegou primeiro.

O processo começou no Sudeste Asiático (Indonésia, Tailândia e Miramar), seguiu para o continente africano, tentou vencer regulamentações mais rígidas na Europa e nos Estados Unidos e, por fim, chegou à América do Sul. “A China entrou numa nova fase de expansão econômica, baseada na exportação de suas próprias marcas depois de servir de base para grandes marcas de todo o mundo”, sublinha Lau. Ele ressalta que máquinas chinesas já têm tecnologia igual ou superior à alemã.

O investimento direto chinês em outros países multiplicou-se quase 60 vezes de 1990 e 2008, segundo dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em 1990, ele somou US$ 830 milhões, saltando para US$ 52,1 bilhões, a maior parte na Ásia, na África e em paraísos fiscais da América Central. Em 2008, a China tornou-se o segundo maior investidor em emergentes, depois de Hong Kong.

Para o pesquisador do Ipea, Eduardo Costa Pinto, é fundamental o Brasil negociar com Pequim mais conteúdo local e agregação de valor nos empreendimentos chineses. Por outro lado, as limitações fundiárias da China, agravadas pelo rígido controle estatal da migração da população rural para as cidades, são vistas como fator de desenvolvimento para o Brasil, alvo da compra de terras por empresas chinesas desde 2008. “As barreiras para esse avanço devem ser respeitadas”, finaliza Pinto.

Canteiro de obras
A invasão chinesa na construção civil brasileira começou com os materiais importados. A importação de aço cresceu 70% e a de cimento dobrou ano passado, segundo dados da Fundação Getulio Vargas (FGV). Esse avanço da concorrência estrangeira já preocupa fábricas locais, afetadas pelo real forte que deixou a balança comercial do setor no vermelho. Segundo o Boston Consulting Group (BCG), as grandes estatais chinesas da construção civil, até há pouco desconhecidas, já brigam por licitações em todo o mundo e estudam o mercado brasileiro.

Fonte: Correio Braziliense
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