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04/04/2011
Exportação crescerá apesar do câmbio, diz chefe da Apex
 
Indicado pela presidente Dilma Rousseff para comandar a Agência Brasileira de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) nos próximos quatro anos, o mineiro de Patos de Minas Maurício Borges considera que o real forte não vai impedir o crescimento das vendas do país ao mercado externo. “O câmbio cria uma dificuldade, mas não pode ser a nossa discussão. Se for pensar o câmbio como um problema, a Inglaterra não exportaria porque ela tem a libra, uma moeda extremamente valorizada”, compara. Para enfrentar o dólar barato, a saída traçada pela Apex é o investimento em produtos com alto valor agregado, além de novos mercados, com prioridade para os países emergentes que crescem acima da média mundial.

Entrar na China também faz parte do plano, oferecendo aos asiáticos de calçados a softwares. A expectativa é que o comércio exterior cresça 15% este ano, a despeito da valorização do real. No ano passado, as empresas apoiadas pela agência exportaram US$ 32,5 bilhões, o equivalente a 16% das vendas brasileiras para outros países. Em Minas Gerais, Borges destaca o potencial das indústrias de eletroeletrônicos, calçados, móveis e alimentos. No mercado americano, a Apex mantém firme a divulgação do etanol. Para Borges, o governo Barack Obama tem dado bons sinais ao combustível renovável. “A barreira não se sustenta a longo prazo.”

Qual a estratégia da Apex para alavancar as exportações?
Estamos mapeando países que têm potencial para importar produtos brasileiros, mas que compram de outros mercados. Com inteligência, vamos trabalhar esse banco de dados, mostrando para o exportador brasileiro que mercados como o africano ou o angolano têm potencial para comprar produtos de alto valor agregado, com ênfase em tecnologia, sustentabilidade, design. Temos várias pequenas e médias empresas com este perfil inovador e o momento é bom para o Brasil. Estamos na vitrine com as Olimpíadas, Copa do Mundo. Mercados como Argentina e Estados Unidos, apesar da crise, também têm potencial para expansão.

Qual a projeção de crescimento das vendas para fora do país neste ano?
A ideia é chegar a 15% acima do que exportamos no ano passado. Vemos uma reação do mercado mundial, que acaba de sair da crise de 2008 e 2009, e uma resposta mais forte dos emergentes, que crescem acima da média mundial. Alguns mercados ainda estão com dificuldades, mas vemos outros destinos. O Panamá cresceu mais de 10%, em ritmo chinês. Os emergentes mostram uma classe média crescente, querendo comprar uma coisa diferente, saindo do tradicional, e o Brasil tem condições de oferecer produtos que combinam com este estilo de vida. Não é uma marca, mas é algo sustentável com artigos nas áreas de saúde, tecnologia, atributos que podemos usar para reforçar a presença do país nestes mercados. Este ano, devemos crescer menos nos Estados Unidos e na Europa e mais nos mercados emergentes.

O real forte pode congelar projetos?
O real forte favorece empresas com valor agregado, competitividade, focadas em atributos específicos. Não vamos concorrer com um calçado ou móvel chinês de baixa qualidade. O Brasil, hoje, não consegue produzir um móvel ou uma camisa barata, mas eu consigo fazer um produto diferenciado, respeitando o meio ambiente, com criatividade, com nanotecnologia e biotecnologia. Temos demonstrado isso em vários setores: moveleiro, calçadista, aeronáutico, aeroespacial, de softwares.

Mesmo para esses itens diferenciados, o câmbio não cria uma dificuldade?
O câmbio cria uma dificuldade, mas não pode ser a nossa discussão. Se for pensar o câmbio como um problema, a Inglaterra não exportaria porque ela tem a libra, que é uma moeda extremamente valorizada; a Alemanha, com a mão de obra cara e o euro, também não conseguiria vender para fora. No entanto, o país está entre os maiores exportadores do mundo. Temos que desenvolver produto com valor agregado, que ultrapasse a valorização do real.

Existem críticas quanto às ações para estimular as exportações para os Estados Unidos. O Brasil, de certa forma, abandonou esse grande mercado?
Não concordo que os EUA tenham sido deixado de lado. Pelo contrário, continuamos fazendo eventos nos Estados Unidos. São diversas feiras, quase 50 eventos dos mais diversos setores, fora as 12 etapas da Fórmula Indy. O que houve foi uma desaceleração da economia lá. Para se ter ideia, a cada corrida são 80 empresas participando, com 200 compradores em cada etapa. Desenvolvemos o Brasil como um player neste mercado.

E a China, pode ser melhor trabalhada?
Sim. Teremos a visita da presidente Dilma àquele país nos dias 11, 12 e 13. Ela será acompanhada por uma missão de 300 empresas brasileiras. A China tem uma classe média consumidora de 200 milhões, maior que a população brasileira. Existe grande potencial nos setores de calçados, cosméticos, artefatos de couro, saúde, tecnologia e softwares. Um grupo brasileiro, formado por várias empresas, vai estabelecer na China uma loja multimarcas, oferecendo calçados entre US$ 150 e US$ 200 para uma classe média disposta a consumir produtos diferenciados.

É preocupante o fato de as commodities serem as grandes estrelas da balança comercial?
Temos vocação e continuamos exportando commodities, mas estamos crescendo muito na exportação de manufaturados e semifaturados de alto valor agregado.

Exportamos software embarcado, segmentos de tecnologia e design têm crescido. Não podemos negligenciar o potencial brasileiro para vender commodities, mas temos também o crescimento de produtos de alto valor agregado. Quando se trabalha uma barra de ferro ou de aço, é agregado valor ao minério com propriedades nanotecnológicas. Alimentos também podem agregar biotecnologia. Os que são processados viram outro produtos. A Embraer é um exemplo. Foi uma das maiores exportadoras brasileiras nos últimos anos.

Quais as perspectivas para o etanol brasileiro no mercado norte-americano?
O etanol é uma fonte de energia renovável que os Estados Unidos e o mundo reconhecem. É possível gerar energia elétrica a partir do etanol e podem ser desenvolvidos carros híbridos (movidos a energia e etanol) em vez do modelo gasolina/elétrico, ou mesmo o triflex, com gasolina, etanol e elétrico, tem potencial. Os Estados Unidos estão percebendo isso. E a barreira tarifária ao produto brasileiro não se sustenta num longo prazo. O governo Obama dá uma ênfase muito grande para a geração de novas fontes de energia que não sejam petróleo e gás. O etanol está na pole position para ser o carro-chefe do mercado americano.

Quanto aos produtos de maior valor agregado, quais são as perspectivas para Minas?
Minas cresce no comércio mundial, mas as exportações podem ser mais bem estruturadas em setores como eletroeletrônicos, móveis e calçados, que hoje detêm tecnologia e estão em alta no mercado mundial. Existe uma janela de oportunidades para produtos mineiros crescerem na pauta e no comércio mundial.

Fonte: Estado de Minas
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