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11/03/2011
Importados representaram 21,8% das compras dos brasileiros em 2010
 
O setor industrial trouxe novos balanços sobre a recente invasão de bens de consumo importados, favorecida pelo real forte e outros fatores, com ameaças para diversos segmentos produtivos nacionais. Pesquisa divulgada quinta-feira pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) mostra que as importações totais do setor sobre o chamado consumo aparente, que considera mercadorias nacionais e estrangeiras, atingiram a marca de 21,8% em 2010.

O percentual ficou 3,5 pontos percentuais acima do apurado em 2009. Segundo técnicos da Fiesp, o avanço é resultado direto da expansão da economia brasileira no período. No entanto, ressaltam que a ocupação de fatias de mercado antes ocupadas por produtos brasileiros mostra também outros problemas de natureza conjuntural.

Enquanto o consumo aparente cresceu 14,2% no ano passado, a produção industrial brasileira reagiu 10,4%, com avanço de 15,9% nas exportações globais do setor. O desempenho isolado das importações foi, contudo, o que revelou melhor o aproveitamento da crescente demanda interna por fornecedores externos. As compras do exterior subiram 36,2%, mais que o dobro das vendas para fora.

O exemplo mais evidente da forte presença de concorrentes externos apontado pelo estudo são os produtos têxteis.

Segundo a Fiesp, de cada cinco itens vendidos no Brasil, pelo menos um é importado. "Estamos assistindo a uma preocupante mudança de perfil do mercado de consumo suprido pela indústria, no qual a China é o maior fator de distorções", avalia a consultora de comércio internacional Josefina Guedes. Ela ressalta que os atuais índices de penetração de artigos estrangeiros repetem os registrados nos períodos em que o real ficou mais valorizado, como na primeira metade dos anos 1990.

Dentre o conjunto de variáveis que prejudicam a competitividade da indústria nacional, a entidade cita o câmbio valorizado e os benefícios fiscais dados aos produtos importados, tanto pelos países de origem quanto pelo próprio mercado doméstico, como isenções estaduais. Real forte e alívio fiscal são "duas fortes razões para o ganho de competitividade e avanço das importações, em comparação com os produtos brasileiros", sublinha o relatório.

Para agravar o quadro, a Fiesp alerta para a possibilidade de a indústria nacional perder espaços e oportunidades para se desenvolver, com inibição de investimentos. A avaliação não explicita, contudo, a potencial perda de postos de trabalho e o fechamento já percebido de inúmeras indústrias brasileiras, de ramos variados.

Efeitos

No começo do ano, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) apresentou levantamento sobre os efeitos da concorrência de produtos da China nos mercados doméstico e internacional de empresas brasileiras. Mais da metade delas reconhece ter sofrido perdas para os chineses.

Para o professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Cláudio Dedecca, a avalanche de importados, sobretudo de bens de consumo pessoais, como alimentos industrializados e eletrônicos, revela, basicamente, a valorização cambial. "Essa questão (câmbio) supera em muito as desvantagens da nossa pesada carga tributária, que são em parte compensadas pelos impostos de importação", observa.

Fonte: Estado de Minas
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